segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Bronca

Ontem tomei uma bronca.

Não gosto de levar bronca. Ninguém gosta.

Seja de um professor na escola, de um chefe no trabalho, dos pais ou de um tio ou tia chatos ou mesmo de um desconhecido que em um contexto qualquer simplesmente resolve passar uma descompostura na gente.

Broncas que vêm de pessoas das quais nunca esperaríamos tomassem tal atitude são especialmente difíceis de digerir. Geralmente produzem perplexidade.

Ontem no final da tarde peguei Mateus, meu neto de três anos e meio, na escola e o levei para casa.

Geralmente ele chega faminto. Sentado à mesa, queria balas de goma – sua opção de doce atual. Coloquei algumas em um pote e dei a ele. Sumiram rapidamente. Em seguida, descasquei uma maçã e ele a comeu também.

Pediu mais balas. Negociando com ele para que aguardasse o jantar, cedi à insistência e, com toda a autoridade que um avô pode reunir, disse-lhe que daria somente duas balas de goma.

Peguei-as e as coloquei na sua pequena mão. Ele não aceitou e, irritado, depositou as balas sobre a mesa e começou a falar: "Ote", "ote", "ote".
Não entendi o que dizia. Perguntei o que ele queria. "Ote", "ote", "ote"!

Comecei a pensar o que significaria isso. Alistei mentalmente o que ele geralmente pede e perguntei: "É leite?" "É desenho?" “É moto?" “É chocolate?” .

Já em pé diante de mim, ele repetia exasperado: "Ote!" "Ote!" "Ote!".

Olhei para minha esposa e minha filha, mãe do Mateus, perguntando com os olhos o que ele estava querendo dizer. Silêncio.

Então Mateus, desistindo de se comunicar com o avô preso ao chão como um espantalho, passou por mim, abriu o armário ao meu lado e estendeu os bracinhos, com as mãos espalmadas apontando para uma pilha de potes, potes nos quais sempre colocamos as balas de goma para ele comer, e disse, com a feição entre séria e sem paciência: “OTE!”

Para ele não interessava se eram apenas duas balas. O fato é que balas de goma sempre são colocadas no pote.

João Leonel.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O menino Jesus em Alepo

Sentado sobre a maca, em um hospital em caos, o pequeno olha para a câmera. Os cabelos estão endurecidos pela poeira. O sangue mancha sua testa e escorre até os olhos. Estes contêm um misto de perplexidade e distância. Ele deve ter dois anos de idade. Suas pequenas mãos, mãos de um quase bebê, são mostradas em close. Estão paradas, os dedos se movimentando de forma ritmada, talvez em busca de uma harmonia há muito perdida.

O título da matéria é: " Alepo é um lugar onde as crianças pararam de chorar."

Impressiona o fato da criança não chorar. São os adultos que choram. Ela os vê, um, dois, três, muitos, e permanece em silêncio, provavelmente olhando para dentro de si em busca de um mundo inexistente, que certamente não mais retornará, como seus pais, mortos em um bombardeio.

A cidade mais populosa da Síria encontra-se em ruínas. Tropas pró governo e rebeldes lutam. O governo, para conquistar a cidade. Os rebeldes, para manter os poucos pontos onde ainda estão em vantagem. Em meio às batalhas, uma mortandade sem fim espalha corpos de civis entre destroços e ruas. Muitos corpos são pequenos, de crianças que um dia brincaram pelas ruas, que um dia sonharam em ser gente grande. Hoje, seus pequenos corpos estão espalhados pela cidade, transformada em um grande e terrível cemitério ao ar livre.

A morte de civis é inaceitável. A morte de crianças é uma monstruosidade.

O choro de mães e pais ecoa um antigo choro. O de Raquel, simbolizando as mães de Israel que choraram seus filhos que haviam sido levados para o exílio babilônico (Jr 31.15), e mais à frente, o choro de mães belemitas que choram a morte de seus filhos pelos soldados de Herodes (Mt 2.2.16-18).

Herodes pretendia matar o menino Jesus. Mas foi enganado pelos magos e pelos pais de Jesus, que, avisados pelo anjo, fugiram para o Egito.
Jesus escapou da mortandade. Seus pais conseguiram fugir. Jesus chorou? Certamente, diante da pressa da fuga, de situações de desconforto e perigo para um recém-nascido. José e Maria choraram? Muito provavelmente, frente à maldade de Herodes, frente às incertezas da fuga e da vida em um país estranho.

Eles sabiam que Herodes era o inimigo. Também sabiam que os magos eram amigos, e os anjos, mensageiros de Deus para salvá-los.

As crianças em Alepo não sabem nada.

De onde vem as bombas que desintegram seus pais, irmãos e amigos? Quem alveja suas casas? Estarão vivos no próximo dia ou, na manhã seguinte, a casa ou apartamento onde moram simplesmente se resumirá a escombros, caixão desajeitado para seus pequenos corpos?

Quem são os amigos? Ainda existem amigos? Por que não vem salvá-las? Por que não impedem que bombas caiam? Por que não as colocam em carros e os levam para longe do inferno? Por que não as levam ao encontro de seus pais e irmãos, ainda que isso seja um pedido impossível de ser cumprido?

As crianças em Alepo não conseguem chorar. Esqueceram como se chora? As lágrimas secaram? Estão acostumadas com a brutalidade diária?

Elas olham atônitas, com olhos embasados, cenas infernais se desenrolarem como um filme de terror.

O menino Jesus está em Alepo. As mães choram os filhos que já não existem.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

A Babilônia é aqui!

Pressionado pela política das grandes nações.

Ouvindo vozes de falsos profetas que repetem com convicção: paz! Paz!

Testemunhando governantes corruptos subirem ao trono um após outro.

Sendo guiado por líderes que agem como pastores que destroem as ovelhas.

Vendo os tesouros do Templo serem levados por alianças espúrias com pretensos aliados.

A fome acompanhando os mais pobres como a sombra em dia de sol.

Perdendo seus jovens e promissores profissionais para as potências.

Assistindo ao desaparecimento dos elementos estruturadores da sociedade: a terra, a cidade e o Templo.

Rechaçando os profetas e seus vaticínios como palavras de lunáticos radicais.

Marchando em direção ao exílio onde permanecerá por setenta anos.

Israel estava no exílio.

O povo havia sido levado para a Babilônia, desterrado em virtude de seus contínuos pecados.

Os mesmos profetas que haviam predito o exílio profetizaram o retorno. Ainda havia esperança.

Tempos de sofrimento eram também tempos de revisão de vida e redirecionamento de caminhada.

Estamos no exílio.

Sim, em pleno século 21, nós, brasileiros, estamos na Babilônia!

A história de Israel renasce em nossa história.

Vivemos a consequência de nossos pecados individuais, coletivos, estruturais.

Nossas lideranças políticas, com raras exceções, nos enganam, nos vendem, são falsos profetas de uma paz cada vez mais distante. Os donos do capital vendem e compram corrupção.

Os poderes que estruturam nossa nação estão tão destruídos como os muros de Jerusalém e as colunas do Templo. Não sobrou tijolo sobre tijolo.

Nossos tesouros, nossos muitos tesouros têm sido entregues em negociatas combinadas nas sombras da noite e comemoradas sob a luz de gabinetes encarpetados ou em restaurantes chiques.

Nossos pobres, como sempre, choram e lamentam as dores do passado e a desesperança do futuro.

Os jovens talentosos de nosso povo têm sido levados por multinacionais e universidades de países ricos. Não querem mais viver aqui.

Ficamos calados, sem resposta, quando nossos filhos nos perguntam sobre o futuro.

Estamos na Babilônia!

E, o que é pior, não há profetas para predizer o retorno para nossa terra. E aqueles que o fazem tem sotaque, cheiro e jeito de falsos profetas.

Estamos na Babilônia!

Quando voltaremos para nosso querido Brasil? Quando os reis, os governantes, os poderosos permitirão que retornemos? Daqui a setenta anos? Quem nos dera termos um Jeremias que nos desse tal esperança!

Quando acabarão as mentiras, as corrupções, os desvios, os desmandos, os líderes enganadores?

Quando voltaremos para o Brasil, meu Deus?

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

É Natal. Silêncio!

Em meio ao agito de corpos e ao vozerio ela medita no mais profundo de seu coração.

Os acontecimentos se sucedem de tal forma que ela procura não se deixar vencer pelas intermináveis novidades que a cercam.

A tensão se instaura em seu coração. Por um lado, a imprevisibilidade do aparecimento do anjo anunciando sua gravidez quando ela ainda é virgem. Ela prevê tensões conjugais, com familiares, com a sociedade. Nos momentos finais de gravidez, a difícil viagem de Nazaré para Belém, a falta de um canto sequer para se deitar a fim de aliviar as contrações, a solidão entre animais, tendo ao lado apenas José.

Por outro lado, a alegria incontida de sua prima, Isabel, ao receber a notícia de sua gravidez. O êxtase de humildes pastores nos campos ao ouvirem vozes angelicais que anunciam o nascimento do Salvador e o encontro pleno de emoção com o recém-nascido. O prazer de ouvir profecias e louvores a respeito de seu filho vindos dos lábios dos anciãos Simeão e Ana.

Alegria e tristeza. Maria não consegue dominar seus sentimentos. Compartilha-os com José? Alguns sim, outros não. Por que foi escolhida para essa missão? Por que seu filhinho querido, embora igual aos demais bebês deveria ser, ao mesmo tempo, tão diferente de todas as outras crianças? Por que a salvação que seu filho trará à humanidade deve significar para ela tão brutal sofrimento ao vê-lo morrer? Saber que perderá seu filho amado, mas que a humanidade ganhará um salvador, não pacifica seu coração.

Enquanto os acontecimentos se sucedem e os sentimentos varrem seu coração como ondas bravias, ela “guarda tudo que ouve e medita em seu coração” (Evangelho de Lucas 2.19).

A mulher que dentre todos os seres humanos em todas as épocas esteve mais próxima do natal e do menino Jesus, e o viveu em sua maior intensamente, medita.

Lutando, Maria não se deixa vencer pela alegria ingênua e nem pela dor antecipada. Ela se prepara para a alegria e para o sofrimento. Medita.

O natal traz sentimentos conflitantes. Pessoas são tomadas de exultação e se envolvem de forma incontida em festas, compras, bebidas. Outras, veem impotentes seus corações serem devastados por ventos tempestuosos de tristezas e dores passadas que teimam em ressurgir nessa época. Uns viajam para verem mais luzes, mais festas, mais gente. Outros viajam para o isolamento de tudo e de todos que a dor requer.

Poucos meditam. Poucos dialogam com seu coração. Poucos, em lugar de abrir as portas do coração de forma desavisada, ou de fechá-lo com trancas para isolá-lo de sentimentos, permitem que o coração fale e meditam naquilo que ouvem.

Fogos, vozes, cantos, felicitações, festas.

Meditação, silêncio. Mesmo que por alguns instantes.

É o legado de Maria neste natal.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Natal e natais

Estava parado na rua da Consolação, em frente ao Mackenzie, onde trabalho, aguardando uma carona.

Olho para baixo, para os carros que sobem a rua enquanto espero. O sinal fica vermelho e os carros param na esquina abaixo, cerca de 200 metros de onde estou. O sol está se recolhendo e começam a surgir os primeiros sinais da noite.

No meio dos carros vejo algo que chama minha atenção. É um carro, ou não, a distância não permite distinguir, com luzes coloridas e piscantes. Firmo a vista mas não consigo maiores detalhes.

O sinal abre e os carros disparam em minha direção. Agora consigo identificar formas e contornos naquele objeto que passa rapidamente por mim. É um carro ou caminhonete adaptado em forma de trenó. Isso mesmo. Um trenó, todo iluminado com uma multiplicidade de luzes e cores, sendo dirigido por... Papai Noel? Bem, ele não está vestido a caráter. Mas é um senhor sorridente, com uma enorme barba branca, real, que conduz o trenó.

Algumas crianças com suas mães estão passando ao meu lado. Elas param, tomadas de espanto e prazer. Mães e crianças sorriem e, ao receberem o aceno do bom velhinho, retribuem com acenos, sorrisos e palmas.

Ao presenciar a cena sou lançado ao passado. Para os natais de minha infância.

Natais simples, aquilo que um funcionário público e uma costureira poderiam oferecer à sua família no interior de São Paulo. Mas a maioria deles inesquecíveis.

Um frango assado – dificilmente o peru comparecia –, maionese, às vezes um lombo, passas, castanhas, nozes, um bolo ou um doce como sobremesa. Mesa maravilhosa para mim e minhas duas irmãs.

E a preocupação de meus pais com os vizinhos mais humildes do que eles próprios. Em vários natais tivemos a companhia de alguma família conhecida, ou às vezes nem muito conhecida. Era o verdadeiro espírito do natal.

E os presentes? Lembro-me da agonia de esperar que meu pai conseguisse comprar o forte apache que eu havia pedido. Não sabia se ele encontraria o presente ou se teria dinheiro para comprá-lo. Ao final recebi o presente tão desejado. Em minha casa, presentes apenas no aniversário e no natal. Como faço anos em junho, havia um interminável intervalo de seis meses entre um presente e outro.

Naquela noite muitos heroicos soldados, cavalgando seus corcéis, mataram os malvados e terríveis índios, como aprendíamos nos faroestes norte-americanos.

E a boneca negra que minha irmã pedira? Tinha que ser negra. Na verdade, era um bebezinho negro. E lá vão meus pais pelas poucas lojas de brinquedos da cidade em busca do bebê. Lembro da irritação de meu pai diante do pedido inusitado.

Ceia saboreada e presentes recebidos no dia vinte e quatro. O dia seguinte era o momento da estreia pública dos presentes. Toda a garotada da rua saía para mostrar o que Papai Noel havia trazido. Claro que havia cenas de ciúmes diante de presentes mais caros e pomposos. Mas, no geral, todo mundo estava feliz da vida.

E assim passaram e passavam os natais.

Olho o trenó que passa por mim seguindo Consolação acima, certamente em direção à avenida Paulista, toda enfeitada para o natal.
Diante do sorriso do Papai Noel e de seu fantástico trenó, não resisto.

Junto-me às crianças e suas mães. Retribuo o sorriso, aceno com as mãos e bato palmas. É natal!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Dentista

Pensei no título. Uma palavra só? Acho que vou acrescentar alguma coisa. Tipo... sei lá. Na realidade, essa palavra não precisa de companhia. Não é mesmo? Dentista! Ela é poderosa o suficiente para subsistir por si mesma.

Lembrei-me disso dias atrás, quando fui ao dentista. Não tem como não associar uma ida a outras idas. Mergulhei no passado, nas memórias terríveis desse evento aterrador.

No primário havia atendimento odontológico na escola pública. Gratuito. E lá vou eu, com meus 10 ou 12 anos, sozinho, ao dentista. Por questões mitológicas, psicológicas, antropológicas e outras tantas, a sala do dentista ficava no segundo andar, em um canto separado de tudo e de todos, tipo castelo do conde drácula, envolto em névoas, isolado do mundo.

Chego cedo e aguardo minha vez. Enquanto isso, dou uma espiada e vejo sentada na cadeira uma menina, que pelos trajes dela e de seus pais à sua volta deveria ser da zona rural, ou da roça, como dizíamos.

Ela está aos gritos, lutando com o dentista. Ele tenta sem nenhum êxito inserir um instrumento enorme, com uma agulha igualmente enorme, na boca da menina. Ela grita, esperneia, bate. Os pais, bem... eles tentam fazer alguma coisa, sem saber ao certo o quê. Por fim, a menina, vitoriosa, consegue fugir da cadeira e sai correndo do consultório. Passa por mim mas não me vê. Eu a vi.

Ouço o dentista dizer uns impropérios. Saem os pais totalmente encabulados. Momentos depois ouço, em meio ao silêncio que se instaurou, do fundo da sala, que naquele momento se tornava uma masmorra reservada para os mais terríveis açoites e inimagináveis torturas: – Próximo!

No momento seguinte, aquele que seria o próximo, EU, estava descendo, ou melhor, quase rolando pelas escadas em direção à saída da escola. Em meu desespero, quase ultrapassei a menina que me antecedeu.

Décadas depois, estou sentado, com a boca aberta, mãos cruzadas, corpo tenso, olhando para um teto branco e infinito. E ainda ouço a pergunta: - Acho que não precisa de anestesia, né?! Lembro da menina.

Consigo sair vivo. Sempre saio vivo. Mas levo mais uma lembrança de dentista. DENTISTA.

Onde estará a menina? Será que ela lembra daquele dia? E se ela nunca mais voltou ao dentista? Imagina! Uma pessoa já madura, afundada em uma cama ou sofá, isolada do mundo, com um único e torturante pensamento: Dentista! Dentista! Dentista! Eu a entenderia.

Mas e se, por outro lado, ela venceu o medo e agora desfila sem traumas e sequelas pelos gabinetes odontológicos do Brasil e do mundo afora? Sorridente, mostra a tudo e a todos as maravilhas que os homens de branco fizeram e fazem em sua boca.
Se a encontrar direi, sem titubear: traidora!

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Papai Noel, me salve!

Em conversa com amigos dias atrás, dei-me conta do tamanho da crise que me envolve.

Não se fala e falou nada além de política durante todo este ano de 2015 (um pouquinho de futebol também, devo reconhecer). Economia em queda, inflação aumentando, dólar lá em cima. Esquemas de corrupção que envolvem políticos e empresários nos mais diversos níveis, escândalos e investigações com nomes criativos: Mensalão, Lava Jato, Zelotes, Petrolão, Pixuleco, My Way, Juízo Final e assim por diante.

Como assim, perguntaria o recém-saído de uma caverna, ou mesmo um etê curioso com a barulheira (e panelaços) que envolve a população e políticos em geral? Como podem as lideranças do país, ocupando presidências as mais variadas, cargos eletivos, membros de comissões, inclusive uma chamada de “ética”, estarem sendo investigados pelos mais diversos delitos? Logo eles que nos representam e que fazem as leis do país? Que deveriam ser exemplo e reserva ética para a nação?

Foram-se os tempos em que pensava-se ensinar moral e civismo por meio de matérias escolares obrigatórias intituladas “Educação, Moral e Cívica”, “Organização Social e Política Brasileira” e “Estudos de Problemas Brasileiros”. Elas não são mais necessárias. Mais do que nunca podem ser conferidos diariamente nos meios de comunicação o tipo de moral, civismo e postura política que nossos representantes têm assumido pragmaticamente. É um show de criatividade e dinamismo!

E, para piorar, lembro-me que lá nos idos do final dos anos 1980 Cazuza decretou que “Meus (nossos) heróis morreram de overdose”. Mesmo Chapolin Colorado, com sua sabedoria e astúcia, não está mais entre nós. E aí, como fica? Como eu fico? Sem políticos para me representar, sem heróis para me defenderem, estou sozinho!

Mas, como estamos em novembro, e dezembro está vindo por aí, lembrei-me, sim, lembrei-me dele, o velhinho bonachão, Papai Noel!!!

Sim, ele não há de me faltar. Afinal, nunca faltou (Embora em alguns anos, devo confessar, tenha deixado uma ponta de decepção). Mas ele sempre vem. O velhinho sempre vem. “Santa Claus is coming to town!”, cantamos todo ano e cantaremos este ano novamente.

Ele trará presentes, música, bebidas, noitadas, encontros e, com sua roupa vermelha e branca impecável, ora no trenó, ora na direção do caminhão da bebida que tem sabor de natal, irá apregoar salvação a todos.

Serei feliz de novo! Esquecerei as roubalheiras, os políticos corruptos, as injustiças, a humilhação sofrida pelo povo pobre. Verei filmes sobre o natal na televisão, assistirei milhões de propagandas na TV oferecendo milhares de presentes. Irei ao shoppings e meus olhos se maravilharão com as luzes e as cores.

Afinal, o sorriso e a bondade do bom velhinho são irresistíveis, não é mesmo?

O que pedirei ao pé do ouvido ao Papai Noel? – Querido Papai Noel, que no ano que vem todo mês seja dezembro!

No Brasil, no meu Brasil, meu último e resistente herói é o Papai Noel. Não restou nenhum outro. Ele me restitui a alegria e orgulho de ser brasileiro!