domingo, 29 de setembro de 2013

Tubaína

É o refrigerante de todos nós. Ou de quase todos.

Turbaína (que teria sido o primeiro nome a ser registrado, em Jundiaí, SP, nos anos 1930), Etubaína (ou seria ela, segundo alguns, a primeira de fato, fabricada em Piracicaba a partir de 1913?) Tubaína, Taubaína, Itubaína, Tuiubaína, Tatuína, TubaGut... são muitos os nomes. Tem até Timãobaína!

Como tubaína define o gênero da bebida, há outras que são tubaínas, mas que recebem títulos como Simba, Cotuba, Gengi-birra, Cajaína, Tupinambá etc.

Atribui-se a italianos radicados no interior de São Paulo a sua criação. E elas reinaram (ainda reinam?) não apenas no interior de São Paulo, mas em todo o Brasil. O mais importante, entretanto, não é a origem, o sabor – tutti-frutti – muito doce para alguns, nem o preço, em geral vinte por cento mais barato do que os refrigerantes mais famosos, mas as lembranças que ela traz.

A tubaína vinha em garrafas de vidro como as de cerveja. Em geral os refrigerantes mais famosos ficavam fora de nossas mesas no interior. Talvez por ainda não serem distribuídos nesses rincões, talvez por terem um sabor ainda estranho ao nosso paladar. Mas, certamente, por não terem condições de rivalizar com nossa querida e onipresente tubaína. Afinal, a tubaína tinha a nossa cara! Era uma questão cultural!

Assisti a uma reportagem na qual a proprietária de um bar, cujo nome é “Tubaína”, relatava que um cliente, ao tomar a tubaína, não aguentou, desfez-se em lágrimas. Certamente tomado por recordações de um passado feliz.

Essa é a mágica da tubaína. Ah, as lembranças!

Quem não participou de um almoço de domingo, com macarronada e frango, acompanhado por quem? Ela, a tubaína! Quem não participou de um aniversário com a dupla: bolo e... tubaína! O que a garotada, depois de uma partida de futebol no campinho do bairro, pedia no balcão do armazém da esquina? Tubaína! Quem não comeu aquele sanduba de mortadela, regado a quê? Ela! A tubaína!

Além do mais, a tubaína não se fez presente apenas nos momentos informais de nossas vidas. Não senhor! Até em cerimônias com a presença de autoridades, fossem nos clubes, nas escolas, na câmara dos vereadores, na prefeitura – lá estava ela! A tubaína!

É... o que um copo (e sempre aquele copinho americano!) de tubaína faz por alguém. Fez nossa alegria na infância e adolescência. Faz, agora, agindo magicamente em nossa memória, trazendo lembranças guardadas em cantos da mente raramente visitados.

Por isso tudo, decidi colecionar tubaínas!

Por favor, me ajudem a resgatar meu passado!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Autoconfiança é tudo!

Ao ver o mágico fazer desaparecer simplesmente um helicóptero do meio picadeiro, João Guilherme afirmou à irmã: – eu sei como ele fez!

O circo já estava há um bom tempo em Campinas e, depois de muitos adiamentos, não era mais possível esperar. Ou ele iria naquela tarde ou nunca mais. Então eu e Claudia pedimos que Melina, a irmã mais velha, levasse João Guilherme ao circo.

Quando passamos para pegá-los ao término da sessão e perguntamos se gostaram, como foi etc., o comentário de Melina foi que o circo é tudo aquilo que disseram, que é muito bom mesmo e que valeu a pena. João Guilherme apenas disse que gostou.

Então Melina entregou o irmão. Disse que o mágico era muito bom, e que o ponto alto de sua apresentação foi o desaparecimento, em pleno picadeiro, de um helicóptero. E que, diante do assombro geral, ouviu a voz do irmão dizendo: – eu sei como ele fez! – eu sei como ele fez! – Sem noção o João Guilherme... concluiu Melina.

Ingenuidade, inocência, infância, entre outras coisas? Provavelmente, mas, talvez nesse momento, do alto dos seus oito anos de idade, um certo tipo de autoconfiança diante do mundo. Uma certeza de que tudo possui explicação, e que, se o helicóptero sumiu, isso deve ter uma razão.

Embora João Guilherme não tivesse a mínima ideia de como isso aconteceu, sua inocência e desejo de impressionar a irmã o levaram a declarar seu conhecimento das artes mágicas!

Por vezes agimos do mesmo modo. Bem, não tão do mesmo modo. Podemos parecer, querer ser autoconfiantes, mas por razões diversas. Nunca a brincadeira límpida e amigável entre irmãos. Talvez queiramos impressionar o chefe ou o outro sexo, pode ser uma estratégia de marketing pessoal, ou mesmo um ego inflamado a ponto de explodir.

E aquilo que nas crianças é visto como algo divertido, sem consequências, entre nós, grandões, pode ser sintoma de doença da mente, do coração, da alma. Obviamente o antídoto não é uma autoestima baixa, um complexo de ser “o menor de todos”. Mas certamente a consciência de que, apesar dos nossos esforços, de nossas habilidades e conhecimentos, dificilmente poderemos dizer a todo instante: – eu sei como ele fez!

Um sentimento de pertença à humanidade, de desejar compartilhar e aprender com outros, de encontrar beleza e sabedoria não apenas em nós mesmos, mas nos que nos rodeiam, pode ser uma boa postura diante do mundo. E, somado a isso, assumir o maior desafio, que não é dizer: – eu sei como ele fez! Mas alegrar-se com a possibilidade de que outros não apenas digam isso, mas, de fato, saibam como fazer.