domingo, 8 de fevereiro de 2015

Tudo de novo


Todo início de ano sou tomado por um surto de desânimo.

Não dou muita atenção a isso e sigo a vida. Afinal, logo a correria dos compromissos e atividades me fazem esquecer e focar no que vem pela frente.

Este ano, experimentando novamente esse incômodo, resolvi refletir. O que acontece comigo?

Por um lado, sofro com a radical mudança que se dá do dia 25 para o dia 26 de dezembro. Acabam as comemorações natalinas que desde a infância me alegram, seja pelas reuniões familiares, seja pelo significado profundo do nascimento de Jesus. Surgem os preparativos para o ano novo e logo a seguir sou lembrado que o carnaval está chegando.

A entrada de um novo ano não me anima, muito menos o carnaval. Por quê?

A imagem bíblica da criação me ajuda a buscar uma resposta.

Após formar Adão do pó da terra, Deus cria os animais e aves e os traz para que ele os nomeie.

Aí está! Eu me identifico com Adão. Sinto-me o Adão do século XXI!

Imagine a cena. Animais e aves em fila, ordenadamente, esperando o momento em que receberão nomes. Centenas, milhares deles.

Imagine a paciência e a criatividade de Adão. Provavelmente sentado, precisa encontrar nomes para todos animais e aves que aparecem à sua frente. E nem sabemos em que idioma. Ou será que ele aproveitou o momento e, prevendo futuros problemas, criou um dicionário de animais e aves multilíngue?

Claro que o desconto a ser dado a Adão é que ele estava sob o impacto da criação. Tudo era novo, e ele certamente sentia prazer em participar daquele momento. Afinal, apesar do trabalho, ele deve ter ficado orgulhoso de perpetuar seu nome na nomeação de toda a bicharada que povoaria a terra.

Pensando bem, sou mais ou menos Adão. Sou Adão na necessidade de identificar e nomear situações e experiências que se apresentam a mim no ano que chega. E haja paciência e criatividade!

Mas definitivamente não sou Adão, pois, com raras exceções, não estou participando do novo, como o primeiro. Pelo contrário, o novo ano se apresenta invariavelmente com situações antigas, perenes mesmo, que me desafiam a rebatizá-las.

Começar tudo de novo, com a mesma bicharada que se apresenta ano após ano diante de mim esperando receber um novo nome. E eu que a cada ano tenho menos paciência para distribuir nomes, para encontrar novos nomes.

Minha esperança é que recaia um pesado sono sobre mim...