terça-feira, 5 de janeiro de 2016

É Natal. Silêncio!

Em meio ao agito de corpos e ao vozerio ela medita no mais profundo de seu coração.

Os acontecimentos se sucedem de tal forma que ela procura não se deixar vencer pelas intermináveis novidades que a cercam.

A tensão se instaura em seu coração. Por um lado, a imprevisibilidade do aparecimento do anjo anunciando sua gravidez quando ela ainda é virgem. Ela prevê tensões conjugais, com familiares, com a sociedade. Nos momentos finais de gravidez, a difícil viagem de Nazaré para Belém, a falta de um canto sequer para se deitar a fim de aliviar as contrações, a solidão entre animais, tendo ao lado apenas José.

Por outro lado, a alegria incontida de sua prima, Isabel, ao receber a notícia de sua gravidez. O êxtase de humildes pastores nos campos ao ouvirem vozes angelicais que anunciam o nascimento do Salvador e o encontro pleno de emoção com o recém-nascido. O prazer de ouvir profecias e louvores a respeito de seu filho vindos dos lábios dos anciãos Simeão e Ana.

Alegria e tristeza. Maria não consegue dominar seus sentimentos. Compartilha-os com José? Alguns sim, outros não. Por que foi escolhida para essa missão? Por que seu filhinho querido, embora igual aos demais bebês deveria ser, ao mesmo tempo, tão diferente de todas as outras crianças? Por que a salvação que seu filho trará à humanidade deve significar para ela tão brutal sofrimento ao vê-lo morrer? Saber que perderá seu filho amado, mas que a humanidade ganhará um salvador, não pacifica seu coração.

Enquanto os acontecimentos se sucedem e os sentimentos varrem seu coração como ondas bravias, ela “guarda tudo que ouve e medita em seu coração” (Evangelho de Lucas 2.19).

A mulher que dentre todos os seres humanos em todas as épocas esteve mais próxima do natal e do menino Jesus, e o viveu em sua maior intensamente, medita.

Lutando, Maria não se deixa vencer pela alegria ingênua e nem pela dor antecipada. Ela se prepara para a alegria e para o sofrimento. Medita.

O natal traz sentimentos conflitantes. Pessoas são tomadas de exultação e se envolvem de forma incontida em festas, compras, bebidas. Outras, veem impotentes seus corações serem devastados por ventos tempestuosos de tristezas e dores passadas que teimam em ressurgir nessa época. Uns viajam para verem mais luzes, mais festas, mais gente. Outros viajam para o isolamento de tudo e de todos que a dor requer.

Poucos meditam. Poucos dialogam com seu coração. Poucos, em lugar de abrir as portas do coração de forma desavisada, ou de fechá-lo com trancas para isolá-lo de sentimentos, permitem que o coração fale e meditam naquilo que ouvem.

Fogos, vozes, cantos, felicitações, festas.

Meditação, silêncio. Mesmo que por alguns instantes.

É o legado de Maria neste natal.

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