sexta-feira, 3 de abril de 2015

Túmulos

“... o depositou num túmulo aberto em rocha, onde ainda ninguém havia sido sepultado” (Lucas 23.53).

“abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram” (Mateus 27.52).

Túmulos, sepulcros, são feitos para abrigar corpos sem vida. Parcela de seres humanos que viram encerrada sua trajetória nesta terra, alguns de forma pacífica, tranquila, outros de modo inusitado, violento, inesperado.

Túmulos e cadáveres. Um foi feito para o outro. Um, sem o outro, incompleto, sem proveito, sem sentido.

No entanto, a narrativa evangélica relata um túmulo a espera de um corpo e túmulos que perdem seus corpos.

Com a morte de Jesus é necessário pensar onde seria sepultado. José de Arimateia, discípulo rico do mestre galileu, se prontifica e oferece o túmulo que havia preparado para depositar seu corpo, em um futuro incerto quanto ao tempo, mas certo quanto ao fato.

Um túmulo novo, cheirando bem, limpo, guardando ainda as formas e impressões das mãos vivas de seus construtores. Um túmulo seguramente construído com requinte, luxo de um homem rico, receberá um jovem rabi do norte, pobre, humilde, que em sua jornada por trilhas, estradas e ruas, não havia tido tempo para pensar onde seu corpo de dores descansaria quando a vida enfim lhe fosse tirada. No túmulo do rico seria depositado o corpo do pobre.

Outros túmulos, antigos, semidestruídos, tristes pelo esquecimento, corroídos pelo vento e erosão, expressão externa da ação do tempo ocorrida igualmente nos corpos que os habitaram em tempos idos.

Túmulos novos, recém construídos, belos, alguns imponentes, com a presença integral de seus ocupantes ou ainda guardando resquícios daquilo que foram em vida.

Todos eles são abertos inesperadamente, violados em seu silêncio, em suas trevas, em seu vazio. Perdem seus ocupantes, perdem a razão de ser.
É necessário que um túmulo receba o intruso para que outros túmulos sejam abandonados por seus moradores. Túmulos confusos, espaço ocupado, espaços vazios, não sentido.

Sexta-feira. Cai a tarde. As trevas começam a ocupar espaços, corações, túmulos. Um, violado pela presença não desejada. Outros, tristes pela partida daqueles que lá deveriam permanecer para sempre.

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