sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

No meu tempo...

A gente pensa que nunca vai chegar.

A gente até que tenta se adaptar ao novos tempos.

A gente tenta, inclusive, negar.

Mas o fato é que chega um momento na vida em que começamos a usar a expressão “No meu tempo...”

E ela se torna uma companheira constante, quase um vício.

Então, assumo que finalmente chegou a minha hora de dizer: “No meu tempo...”

Neste momento penso em meu passado religioso.

Entrei para o movimento evangélico no final dos anos 1970, ainda adolescente. E nesse tempo, no “Meu tempo...”

... pastor evangélico era, em geral, pobre. Mas respeitado, confiável, honesto, conhecedor da Bíblia. Nas pequenas cidades era contado entre as pessoas mais cultas.

... apóstolo era Mateus, Paulo, Pedro.

... cantávamos com a mesma alegria hinos e corinhos. Estes eram feitos por gente crente e piedosa, sem ambições artísticas, e sem cobrar por shows.

... havia diferença entre as denominações evangélicas, mas havia igualmente respeito, fraternidade, amor até. Em minha cidade no interior de São Paulo, vi mais de uma vez as igrejas presbiterianas, a Batista, a Metodista, a Assembleia de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular se unirem para realizar cruzadas evangelísticas.

... havia consciência, principalmente entre os jovens, de que a missão da igreja era fazer discípulos, e que, para tanto, precisávamos sair para o mundo.

... aprendemos com o pastor e teólogo batista Russel Shedd que os cultos nas igrejas não deveriam visar o evangelismo, mas sim o ensino da Palavra, com o objetivo de edificar e instruir os cristãos.


... tentávamos desenvolver uma teologia e uma prática cristã contextualizada, autóctone, não importada do primeiro mundo econômico e teológico.

... tínhamos alegria de não mais depender de missionários estrangeiros e de seu dinheiro. Éramos igrejas pobres mas orgulhosas de viver por nós mesmos.

... não fazíamos propaganda de nossos pastores, chamando pessoas para ouvi-los. Entendíamos que o papel deles era nos ensinar e o nosso proclamar o evangelho aos nossos amigos e conhecidos.

... a doutrina era algo doméstico que aprendíamos e que nos alegrava, mas não era considerada uma bandeira e uma arma com as quais deveríamos travar batalhas com cristãos de outras denominações. A doutrina nos ensinava a adorar a Deus e a amar o próximo.

... havia reuniões de oração antes dos cultos e durante a semana. Os cristãos tinham convicção de que a oração era parte essencial da vida cristã.

“No meu tempo...” a igreja evangélica era menor, sem poder político, mas mais evangélica, mais piedosa, mais humilde, mais alegre, mais missionária e mais acolhedora.

... “No meu tempo”.

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