sábado, 12 de abril de 2014

Exilado em tempos de eleição

v. 1. Ás margens dos rios da Babilônia,
nós nos assentávamos e chorávamos,
lembrando-nos de Sião.
v. 2. Nos salgueiros que lá havia,
pendurávamos as nossa harpas,
v. 3. pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções,
e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo:
Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.
v. 4. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor
em terra estranha? (Sl 137.1-4).

O salmo 137 foi escrito quando Israel estava exilado na Babilônia. Esteve por lá 70 anos até que retornou à Palestina.

Os primeiros versículos transcritos acima retratam o espírito de apatia e tristeza que enchia corações e faces daquela gente.

No entanto, os vencedores, além de opressores (v. 3) eram irônicos. Eles pediam que os exilados fossem alegres e cantassem músicas de sua terra (v. 3), músicas que eram cantatas em Jerusalém.

Tais músicas eram, se não na totalidade, pelo menos em sua maior parte ligadas ao templo de Jerusalém e às cerimônias religiosas lá praticadas. Então, a resposta dada é: é impossível cantar, uma vez que estamos longe de nossa terra, de nossa cidade, de nosso templo, portanto, dos locais onde cultuávamos nosso Deus e cantávamos para ele.

Proponho uma atualização do salmo. Se não de forma contextual, pelo menos na experiência dos sentimentos que ele expressa.
Sou um exilado. Exilado em minha própria terra.

Nela choro e, nas praças, sento-me e penduro meu violão nos bancos e árvores. Estou mudo.

Lembro-me de um Brasil que não conheci. Lembro-me de um Brasil que dizem ter sido diferente. Lembro-me de um Brasil onde as pessoas eram alegres, onde havia trabalho, saúde, escola e lazer para todos. Lembro-me de um Brasil onde crianças, velhos, pobres, negros e mulheres eram tratados dignamente.

Lembro e me entristeço, pois estou exilado em meu próprio país.

Mas aqueles que me fizeram cativo em minha própria terra, os políticos, não me querem ver triste. Eles me oprimem, mas ainda assim pedem para que eu seja alegre, que cante músicas que falam de um Brasil que não conheci.

Pedem que eu me dirija à urnas feliz da vida, crendo em mudanças, acreditando em promessas de palanques, em propaganda política...

Os políticos querem que eu sinta uma alegria patriótica em votar neles. Mas não consigo.

Como posso cantar, como posso votar, quando sou exilado em meu próprio país? Como posso votar com alegria, quando aqueles em que voto perpetrarão meu exílio e me oprimirão no primeiro dia de seus mandatos?

No meu país, que se transformou em terra estranha para mim, onde sou oprimido e tratado como cativo, não consigo mais cantar, não consigo mais sonhar, não consigo mais votar.

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