sábado, 19 de abril de 2014

Trevas

“houve trevas sobre toda a terra” (Mt 27.45).

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).

“E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito” (Mt 27.50).

“tirando-o do madeiro, envolveu-o num lençol de linho, e o depositou num túmulo aberto em rocha [...] Era o dia da preparação” (Lc 23.53-54).

“trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus” (Jo 20.19).

Depois de um período se caminhada com Jesus, para a qual deixaram suas vidas de pescadores, revolucionários, cobradores de impostos etc., a aventura chega ao fim.

Depois de ouvirem e verem coisas maravilhosas e serem inflados pela esperança da chegada de um reino de paz e justiça, a aventura chega ao fim.

Depois de verem o diabo derrotado por Jesus e pessoas libertas, a aventura chega ao fim.

Depois de testemunharem o mestre, sobre o qual depositaram fé e pelo qual se deixaram guiar, ser preso, brutalmente espancado, crucificado e, para o espanto deles, declarar que Deus o havia abandonado, morrer como um criminoso comum, a conclusão dos discípulos é que a aventura realmente chegou ao fim.

Depois de presenciarem o corpo de Jesus ser retirado da cruz e depositado em uma caverna e esta ser selada com uma rocha, eles voltam as costas e seguem, apressados, para se esconderem, temerosos dos judeus. Afinal, a aventura chegou a um triste fim.

Decepcionados, entristecidos, sentindo-se enganados, sem esperança, escondidos de tudo e de todos, os discípulos sentem que as trevas que cobriram a terra quando da morte de Jesus atinge seus corações.

Com a morte de Jesus, a terra volta a ser “sem forma e vazia” e “as trevas retornam sobre a face do abismo”.

Afinal, a aventura chegou ao fim.

O período entre a sexta-feira e o domingo foi o pior momento na vida dos discípulos. Jesus, o Senhor da vida, havia sido vencido pela morte. Sua voz silenciada, seus discursos perdidos no tempo, suas ações transformadas em meras lembranças.

Jesus estava morto. Então, restavam apenas as trevas e o medo.

Medo vivido da sexta até a madrugada do domingo.

Medo de quem olha para o passado e vê desilusão. Medo de quem tenta olhar para o futuro e vê apenas vazio.

Como viver esses dias? Como sobreviver a eles?

A sexta-feira está chegando ao fim, levando consigo o corpo de Jesus, as esperanças dos discípulos e os ecos dos gemidos de dor do universo. O sábado se aproxima, dia longo em que as celebrações judaicas não terão sentido para os seguidores do rabi morto.

Tempo de espera, em que o vazio se expande ameaçando invadir corpos e mentes frágeis demais para resistir.

Trevas.

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